Páscoa e ressignificância I
"Ora,
o nascimento de Jesus Cristo foi assim: Maria, a sua mãe, tinha
casamento contratado com José. Mas, antes de se unirem em casamento, ela
se achou grávida pelo Espírito Santo. José,
com
quem Maria estava para casar, sendo um homem justo e não querendo
envergonhá-la em público, resolveu deixá-la sem que ninguém soubesse.
Enquanto ele refletia sobre isso, eis que lhe apareceu um anjo do
Senhor, dizendo:
_
José, filho de Davi, não tenha medo de receber Maria como esposa,
porque o wque nela foi gerado é do Espírito Santo. Ela dará à luz um
filho e você porá nele o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo
dos pecados deles."
Mateus 1. 18-21.
"A
partir do meio-dia, houve trevas sobre toda a terra até as três horas
da tarde. Por volta de três horas da tarde, Jesus clamou em alta voz,
dizendo:
_ Eli, Eli, lamá sabactâni?
(Isso quer dizer: Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?)
Alguns dos que estavam ali, ouvindo isto, diziam:
_ Ele chama por Elias.
E, logo, um deles correu a buscar uma esponja e, tendo-a embebido
em vinagre e colocado na ponta de um caniço, deu-lhe de beber. Os
outros, porém, diziam:
_ Espere! vejamos se Elias vem para salvá-lo.
E Jesus, clamando outra vez em alta voz, entregou o espírito."
Mateus 27. 45-50.
"Passado o sábado, no começo do primeiro dia da semana, Maria Madalena e
a outra Maria foram ver o túmulo. E eis que houve um grande terremoto;
porque um anjo do Senhor desceu do céu e, aproximando-se, removeu a
pedra e sentou sobre ela. O aspecto dele era como um relâmpago, e a sua
roupa era branca como a neve. E os guardas tremeram de medo e ficaram
como se estivessem mortos. Mas o anjo, dirigindo-se às mulheres, disse:
_
Não tenham medo! Sei que vocês procuram Jesus, que foi crucificado. Ele
não está aqui; ressuscitou, como tinha dito. Venham ver onde ele jazia.
Agora vão depressa e digam aos seus discípulos que ele ressuscitou dos
mortos e vai adiante de vocês para a Galiléia; lá vocês o verão. é como
acabei de dizer a vocês."
Mateus 28. 1-7.
A
páscoa (pessach) nasceu como um livramento divino e se fez judaica
significando um movimento iniciado por Deus libertando o seu povo (Israel) da
escravidão no Egito, depois de derramar seu juízo, promovendo a morte dos primogênitos
egípcios ao passo que livrando os filhos de Israel através do sangue de
cordeiros sacrificados por sobre quem sua ira passou, e depois, conduzindo-os a
caminho da Terra Prometida. Mais tarde, a páscoa tornou-se, sem anular a
importância e o significado histórico da primeira, um livramento igualmente
divino, dessa vez maior e final, trazendo um novo cordeiro, esse, Jesus, o
próprio Filho de Deus encarnado, oferecendo seu sangue expiatíório pelos
pecados, que são os grilhões do espírito humano, ao homem que responde ao
chamado de reconciliação de Deus e, que em face da ira vindoura, do juízo
final, a morte não provoca mais o dano declinação eterna.
Páscoa antes e depois sempre foram livramentos divinos que
consequentemente provocam êxodos humanos, o primeiro, uma caminhada que
age sobre a carne, experimenta do suor e cansaço do deserto, mas aponta para a
liberdade e para uma nova terra. A segunda, uma caminhada que age sobre a carne
também, mas crava ação profunda que invade o espírito, esvazia as inclinações e
desejos autônomos, obstrui o ego e aponta para a graça de Deus, a nova e eterna
vida. No entanto, quando pensamos em manifestações públicas mais amplas dentro
do período pascal, surge preponderante, o coelhinho e os ovos de chocolate, a
embriaguez do vinho embebida com práticas mundanas das mais reprováveis e
outras, mas isso, corresponde ao espelho mais simplório e vulgar das distorções
de sentido e significado, porque muitas vezes elas estão atreladas a uma
ignorância ou uma alienação alimentada pela fraqueza intelectual de quem as
vive, e também, as vezes, pequenos esforços podem provocar a correção desta
percepção. Um quadro muito mais grave, vem sendo composto dentro dos meios por
onde se propaga o conhecimento mais alto e onde se alimenta os hábitos de
consumo e de circulação das sociedades: são consecutivamente, as universidades
e a mídia formadora de opinião.
Ao pensarmos no grosso das instituições de ensino superior, deparamo-nos com um
cenário alarmante de pessoas que vem bebendo de conteúdos ideológicos e que tem
aprendido a propagar como discurso uníssono (tal, qual um conjunto de sentenças
memorizadas por um papagaio) ideias revolucionárias que se insurgem contra os
chamados valores tradicionais ou conservadores, ou num limite ora extremo,
'fascistas'. Um contingente absurdo de jovens que vem egressos dos bancos
universitários cospem um sistema de crenças ateístas que agride instituições
milenares, quando não institutos que se confundem com o próprio tempo, tais
como a vida, a liberdade, a ordem, a conjunção de direitos e deveres e família,
etc.
Quando apontamos nossas atenções para a mídia formadora de opinião,
contemplamos veículos de informação que não oferecem a notícia, mas
interpretações de fatos formatados por seus horizontes de consciência.
Encontramos intelectuais, artistas e publicitários (sim, estes últimos pautam
nosso consumo posterior) comprometidos igualmente com uma agenda ideológica
uniforme e que repele o livre pensar e a pluralidade. O filósofo Platão muito
provavelmente refletindo sob influência socrática se insurge fortemente contra
os poetas de sua época por corromper a realidade e a interpretação objetiva da
realidade através das palavras que conferem sentidos distintos e alienados ao
objeto da realidade, do qual a filosofia precipuamente se ocupa. Podemos, com o
risco de cometermos o erro de proporção, estender o termo poeta, para os
intelectuais, artistas e publicitários, que de forma menos elegante enquanto
conceito, mas, mais fluído enquanto produto das sensações primárias. Estamos
consumindo a cicuta de Sócrates em cálice de vinho no momento em que nos
deixamos desapercebidamente passivos à oferta da interpretação da realidade, em
vez da sua informação cristalina; acolhemos arte escrita, falada ou
cinematografada e televisada com o espírito ingênuo e submisso; e, quando nos
aliamos a homens que proclamam a autorrepresentação do ideal de perfeição e da
condição de messias humanos. A própria Bíblia Sagrada há muito nos alerta
para sermos céticos em face das iniciativas e alianças humanas (Jeremias.
17.5).
A celebração da páscoa (como tomada por exemplo) assim como de outras grandes
datas do calendário
litúrgico religioso, ainda que fortemente subvertida pelas tantas cadeias de
ideologias que visam deteriorar e aniquilar o amplo sistema de crenças e
valores judaico-cristãos, remete ainda hoje, de forma evidente, à uma corrente
de fatos históricos e de convicções fortemente arraigadas no inconsciente
coletivo das sociedades livres, sobretudo, as ocidentais. Isto (esses valores e
crenças) corresponde de forma direta a um conjunto de tradições e de defensores
crentes das mesmas que possibilitou através dos séculos a preservação de
instituições virtuosas que por sua vez, não só solidificou e promoveu uma
margem essencial de equilíbrio no mundo, como também assegurou uma razoável
estabilidade das interrelações humanas individuais e coletivas em conformidade
com os avanços sociais e o progresso tecnológico. Evidentemente, houve
acidentes e deformações no percurso da história, mas, é inequívoco que foi a
interrelação do homem com Deus e sua Palavra, que em última instância
proporcionou a continuidade do mundo como hoje o contemplamos, com suas
virtudes e suas distorções.
Quando nos detemos por instantes e averiguamos com maior interesse o meio que
nos cerca, percebemos que sutil mas latentemente age uma rede de ideias e
condutas político-ideológicas e culturais com um intuito único e escalonado:
primeiro atribuir interpretações novas e "puras" para todas aquelas
crenças e valores, normas culturais e a própria percepção da realidade, não
importa o quanto elas já sejam comprovadas e estejam impressas na identidade
humana de onde derivara, são as ressignificâncias que representam uma
forte linha de combate que vem sendo travada de forma desigual nos campi
universitários, na linguística e na publicidade; segundo, a substituição dos
termos e de seus significados referentes por uma ordem nova de terminologias e
significados completamente destituída de orientação teológica e que atenda a
orientação de uma supremacia humana inicialmente livre de quaisquer amarras a
ímpetos revolucionários, mas que corre com passos largos para um aprisionamento
das vontades e das liberdades em face de um novo deus; o supremo líder e pai de
todos. Estamos nós como plantas infrutíferas cercadas de ervas daninhas e, nossa
inanição pode custar a sobrevivência saudável das sociedades que nos sucederão,
filhos, netos e demais continuadores. exige-se portanto, um despertar que
comece pela rejeição do establishment e a busca da verdade, dos
princípios fundadores de nossa civilização e de nossas crenças transcendentais.
Em virtude então desse ataque contra a compreensão de mundo
judaico-cristã, a trincheira que deve ser erguida por nós, que nela ou dela
nascemos, permanece inalterada, é a mesma trincheira da Verdade e de sua defesa
aliada intelectualmente a uma robusta gama de conhecimento das suas ciências
derivadas, não alicerçada no simples credo estático e ingênuo, que nos manteve
e nos sustentará pelos tempos que ainda virão, sejam eles tamanhos o quanto
forem. A Verdade nunca morre e, até mesmo a fé do homem, tal qual uma fênix,
pode renascer de cinzas e da decrepitude, se em vez de relativas verdades, na
Verdade que é Cristo, morto em sacrifício a Deus e ressurreto para o perdão de
seus pecados, ele estiver espiritualmente firmado... _ rejeite novas
interpretações de suas crenças e convicções mais profundas, desfrute e
persevere pela continuidade ininterrupta da liberdade que Deus oferece-lhe em
Cristo, e, não confie a ladrões de almas, a centelha de luz, a imagem
refletida de Deus em você.
Leituras sugeridas:
. Bíblia Sagrada (não sugerida, obrigatória)
. A
conspiração aberta _ Diagramas para uma revolução mundial / H.G. Wells / Vide
editorial.
.1984
/ George Orwell / Companhia das Letras
.Os
Intelectuais e a Sociedade / Thomas Sowell / É Realizações.
.A
Poeira da Glória _ Uma (inesperada) história da literatura brasileira / Martim
Vasques da Cunha / Editora Record